Resgate: Kaleen e Abdul

Eu recebi uma ligação à meia noite.  

“Eles estão me batendo! Eles estão me batendo!” 

“Quem está te batendo?” 

Kaleem gritou através de suas lagrimas: “Os patrões, eles estão me batendo!” 

“Onde você está?” 

“Bangkok, mas não sei onde. Eu apenas corri para longe. Professora, venha me buscar, por favor! Eu quero ir para casa! Eles me batem aqui.” 

A casa das crianças antes de serem vendidas ou resgatadas.

A essa altura, percebi que do outro lado da linha estava Kaleem, um menino de rua de 11 anos. Seis semanas antes, ele memorizou meu número de telefone quando nos resgatamos sua sobrinha de 8 anos. Eram crianças mendigos que nunca tiveram a chance de ir à escola, mas foram obrigados a pedir esmola nas ruas ou cavar no lixo recicláveis para vender. Kaleen me ligava toda semana implorando para busca-lo, mas como ainda não tínhamos instalações para meninos, não tínhamos para onde trazê-lo. Depois de um mês ele parou de ligar. Desconfiado, perguntei sobre ele e me disseram: “Ele foi vendido para Bangkok”. 

Kaleem e seu irmão de 8 anos de idade foram vendidos por 1500 bath cada (aproximadamente $250 reais). De seus ganhos mensais, sua mãe receberia outros 1.500 baht. Os garotos eram forçados a vender 70 brotos de flores nos bordéis e bares das 21h às 3h todas as manhãs. Esses meninos, junto com outras crianças traficadas, tinham que sair descalço e vender para clientes bêbados e lascivos. Se eles não vendiam sua cota de flores eles seriam espancados. Eles recebiam uma colher de arroz por dia e eram vendados indo e vindo à noite para que não soubessem onde estavam e para não fugirem. 

Nós pegamos o proximo voo a Bangkok e através de uma série de eventos milagrosos, resgatamos Kaleem, seu irmão Adbul, outro menino e uma garota de 10 anos de idade que estava sendo preparada para o comércio do sexo, através da iniciação do trabalho infantil. Estas crianças agora estão salvas e seguras. Kaleem e Adbul estão passando por uma intensa escola de verão e treinamento de idiomas, já que estão prestes a entrar no primeiro ano de escola. Elas não são mais crianças escravas, mas agora estão gostando de jogar futebol, aprender violão e inglês, como crianças normais.  

A família reunida no primeiro dia de aula.